Charuto, torcedor que assistia aos jogos do "Cororado" invariavelmente bêbado e que conquistou a simpatia e o respeito de todo o time e toda torcida. Foto: Acervo Claudio Dienstmann |
Por que o Internacional? Também existe a razão além da razão. Quem explica as devoções instantâneas? Dizem que nenhum gaúcho pode ser juiz na famosa competição entre o boi caprichoso e o boi Garantido na ilha de Parintins, no Amazonas, porque, fiel à sua formação - segundo a qual tudo na vida, no fim, é gre-Nal - ele não conseguia ser neutro. O caprichoso é azul e o garantido é vermelho: descobri na chegada à ilha que eu era Garantido apaixonado desde criança.Porque você não simpatiza apenas com o sucedâneo do seu time, você se apaixona. Ou transfere, automaticamente, sua paixão eterna. Estive em Siena na época do "pálio", aquela corrida maluca na piazza central entre cavalos das várias "contradas" da cidade, cada uma em suas cores tradicionais. Não demorei muito para saber que a "contrada" do meu coração, desde os tempos medievais, era a da girafa, vermelha e branca, e também não demorei muito para amar o cavalo e depositar no seu jóquei todas as esperanças de ser feliz naquela ensolarada tarde de agosto. Nosso cavalo perdeu. Acho que o jóquei caiu na primeira volta. Mas tive um consolo: o vencedor não era azul.Não sei se essa necessidade de "ser" alguma coisa mais do que nós mesmos - "ser" o colorado Salgueiro no carnaval carioca, por exemplo, mesmo sem nunca ter frequentado suas alas ou sequer estado no morro - é um resto de irracionalidade infantil ou um dos melhores traços humanos. Nosso "time" em todas as suas manifestações não é nem uma garantia de alegria, um jeito que compensar mágoas ou limitações individuais mergulhando num sentimento compartilhado e num entusiasmo maior. Muitas vezes é uma paixão sofrida, uma coisa torturante. Consolo nada, martírio. Mas fazer o que?Lembro que um dia fui a um circo onde havia um jogo de futebol entre cachorros. A derrota dos cachorros de camiseta vermelha estragou o espetáculo e o dia para mim. e isso que eu tinha ido ao circo para levar as crianças. Homem feito.
VERISSIMO, Luis fernando. Internacional, autobiografia de uma paixão. Rio de Janeiro: Ediouro, 2004. p. 26-29, 38.
Hoje, o amor maior da vida dos Colorados completa 101 anos.
Colorado, time do Saci brincalhão, do Rolo Compressor, da Sele/Inter, dos Invictos de 79, de Falcão, Bodinho, Figueroa, dos Poppe, do Taffarel, do Librelato, do Campeão de Tudo, do Centenário de Todo o Mundo.
Falcão e a taça do Tri Campeonato Invicto, 1979
Foto: www.internacional.com.br
"Cororado" o clube do povo dos torcedores apaixonados, devotos e completamente entregues à essa paixão que toma conta das nossas almas, das nossas vidas, e quando nos questionam sobre o motivo de tanta loucura apenas respondemos "Sabe aquele amor maior do mundo? Então, o amor da minha vida".
Amor Maior do Mundo Foto: autor desconhecido |
Nosso corpo existe desde a nossa criação.
Nossa alma, desde 1909.
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