domingo, 4 de abril de 2010

A Panela do Tim


─ 
Vamulá, putada!

Esse era um dos gritos de guerra preferido de Gilberto Tim, que ouvíamos no vestiário, na hora do time entrar e campo para uma decisão, ou mesmo em meio ao treinamento físico, quando o grupo começava a esmorecer. Tim foi a opção mágica que fez o Internacional correr mais do que qualquer outra equipe em 1979. Além dos palavrões carinhosos, bem na linguagem da boleirada, ele tinha um repertório imenso de argumentos motivacionais para fazer a gente trabalhar duro e entrar em campo soltando faíscas. Suas preleções viraram atrações no Beira-Rio; os diretores e conselheiros com acesso ao vestiário procuravam chegar cedo só para ver Tim em ação.
Ele criava frases de efeito, desafiava os brios do grupo. Usava declarações de jogadores, técnicos e dirigentes do adversário para provocar:

─ Fulano falou que o Jair não joga nada.
─ Outro disse que o Cláudio Mineiro só sabe apoiar.
─ Estão duvidando da gente.

Gilberto Tim jogava junto com o time. Lembro-me bem dos socos que ele dava nos armários e nas paredes do vestiário, parecendo verdadeiramente enfurecido.

─ E eu não jogo um jogo desses! ─ lamentava-se.

E batia também nos jogadores. Tim era uma fortaleza física. Quando via algum jogador mais devagar dava uma gravata no cara, forçava sua participação na atividade. Dava tapas, porradas mesmo. Mas era amigo de todos e muito respeitado. Foi padrinho de casamento de alguns dos seus comandados.
Em 1975 e 1976, os dois times do Inter que foram campeões tinham fôlego e músculo com a assinatura de Gilberto Tim. De lateral mediano, que não chegou a se destacar, ele se transformou no melhor preparador físico do Brasil. O Inter de 75 marcava o campo inteiro, o de 76 jogava à moda Holanda, com linha de impedimento e sufoco no adversário. Tudo funcionava porque durante a semana Tim colocava os jogadores a carregar peso, fazia um trabalho intenso de força, resistência e mobilidade. Em 77, ele deixou o Inter e no ano seguinte formou dupla com Ênio Andrade no Coritiba.
Quando a dupla foi contratada para comandar o time no Campeonato Brasileiro de 1979, Tim chegou impondo seu estilo. Na primeira preleção, jogou uma panela no meio dos jogadores e disse:

─ Essa é a nossa panela. Quem quiser fazer parte dela, que fique nesta preleção. Quem não quiser que saia logo, pois nós precisamos estar juntos para ganhar o título.

Depois, com o seu trabalho, com o sei jeito Tim de ser, ele se encarregou de colocar pressão na panela e o Inter não parou mais de ferver.
Gilberto Pazzetto, o Tim, ex-lateral do Renner e do São José de Porto Alegre, o maior preparador físico que o futebol brasileiro conheceu, trabalhou com Telê Santana na Seleção e morreu no dia 13 de junho de 1999, aos 57 anos, ironicamente vitimado por uma doença cerebral degenerativa, que aos poucos foi extinguindo aquele vulcão físico e motivacional.

FALCÃO, Paulo Roberto. O time que nunca perdeu. Porto Alegre: Age, 2010. p. 69-70

Gilberto Tim
Foto: 
http://terceirotempo.ig.com.br

Hoje, a situação do Inter é bastante parecida com o inicio da temporada de 1979. Uma campanha não muito boa no estadual, e muitas dúvidas em cima do plantel colorado.

O jogo contra o Cerro, na última quarta-feira, está sendo considerado por muitos uma nova oportunidade. O divisor, o antes e o depois, a crise e a calmaria.

O recomeço
Foto: AFP
 Ver o abraço entre Walter e Fossati fez surgir em nossos corações uma esperança, uma luz no fim do túnel apareceu. O abraço selou uma nova fase, o recomeço.

É hora de fecharmos com a panela do Inter, tanto jogadores, comissão técnica e torcedores. Apenas juntos conseguiremos vencer nossos monstros internos. Está na hora de resgatarmos o espírito guerreiro do Tim e espalhar pelos corredores do Beira-Rio, até as arquibancadas.

Foto Oficial da Pré Temporada Colorada 2010
www.internacional.com.br
Hoje, teremos mais uma batalha. O jogo contra o Universidade pelo campeonato gaúcho definirá se avançaremos à próxima fase. E o desejo é claro, queremos greNAL.

Inter 2 x 0 Grêmio, Antigo Torneio Rio São Paulo
Foto: Acervo Dienstmann 
Consegui o improvável aqui em São Paulo, achei um torcedor do porto alegrense na minha faculdade. Como a flauta é natural, estávamos conversando sobre nossos times e, em tom de brincadeira, falamos que o Inter se classificaria em 4° só para pegar o grêmio  e eliminá-lo do segundo turno da competição. 

É como eu sempre digo, não há nada como um greNAL para afastar a crise e acalmar os ânimos na Padre Cacique.


Colorada em São Paulo

Jéssica Domenicis, Parque do Ibirapuera - São Paulo, 2008.
Foto: Luciana Yole
Tu és o grande amor da minha vida, Colorado das glórias querido, é por você que eu morro de amor!

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